YASMIN BIDIM

nome próprio daquele homem sobrou quase que nem o nome na estante um retrato de lado de longe daquele homem não sobrou nem história só restou um cômodo uma crosta de passado a mesa pesada os óculos quebrados as gavetas as cartas os livros apartados do tempo soltos no espaço daquele homem sobrou apenas o pó impregnado o nome de um país uma paisagem um atlas um imaginário daquele homem sobraram apenas outros homens o pai o filho recolhemos do chão as sobras do homem limpamos o nome fizemos novos documentos cruzamos o mapa nunca mais falamos do homem mas na carteira de trabalho, nos passaportes, inventários jaz ele o homem o nome o próprio

Yasmin Bidim é pesquisadora, produtora cultural, poeta e artista da imagem. Mestre em Imagem e Som pela UFScar, por 8 anos atuou como VJ, se apresentando em eventos e espaços como SESI, SESC, Festival Contato, MIS SP, Semana Internacional da Música de São Paulo e Rock in Rio. Também trabalhou como programadora audiovisual e produtora no cineclube Sessão Zoom e no CONTATO: Festival Multimídia Colaborativo. Em 2018 publicou o livro "Rota das Raízes: gastronomia e cultura no estado de São Paulo" com apoio do ProAC. Atualmente faz doutorado em Estudos de Literatura na UFSCar e atua como professora do curso de Especialização em Educação e Tecnologias da mesma instituição. Produz no YouTube o canal de videopoesia Poesia em Obra, onde divulga trabalhos autorais. Em 2020 lançou seu primeiro livro de poemas, o Livro dos Interiores (Penalux). Também escreve ensaios e críticas de arte e cultura e possui trabalhos publicados na Revistaria, Jornal Relevo, Totem & Pagu, Revista Crua e Revista Mallarmargens. Ministra oficinas em suas áreas de atuação em espaços como a Casa Guilherme de Almeida e a Oficina Cultural do Estado de São Paulo.

Videopoema feito à partir do poema homônimo de Yasmin Bidim, publicado no "Livro dos Interiores". _________________________________________ Yasmin Bidim vive na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. Tem formação em cinema e é doutoranda em Estudos de Literatura pela UFSCar. Trabalha como pesquisadora e educadora de arte e cultura, artista multimídia e produtora cultural. Produz o canal Poesia em Obra, no YouTube, no qual divulga seus poemas visuais e também o blog A Terra é Plena: https://aterraeplena.blogspot.com/. Em 2020 lançou pela editora Penalux seu primeiro livro de poemas, o Livro dos Interiores. Instagram: https://www.instagram.com/ya.bidim/

Fórmula, de Yasmin Bidim eu havia previsto um certo deslocamento planejado o ponto de partida, as paradas, os lugares visitados, as chegadas eu sabia os veículos que deveria tomar que fariam meu deslocamento entre os pontos planejados eu havia planejado um 𝚫S estar em determinados lugares em determinados dias então eu havia planejado também um 𝚫t um período em que os deslocamentos deveriam acontecer eu deveria ficar longe de casa por 15 dias me deslocando entre pontos determinados eu havia planejado uma equação 𝚫S/𝚫t eu planejara estar em constante movimento O que eu não sabia é que quando eu chegasse lá – mas chegasse onde? que quando eu chegasse lá eu ficaria paralisada eu não sabia que quando eu chegasse lá eu iria querer voltar e teria desejado não ter me deslocado jamais então no meio do meu trajeto mudei a equação atualizei as variáveis e percebi somente depois de já estar indo embora que ao alterar as variáveis estava alterando também o resultado pensei que poderia alterar a equação sem alterar o resultado eu cometi um erro de cálculo e criei um problema voltei para casa – mas onde é casa? eu voltei para casa depois de apenas sete dias de deslocamento e cheguei num resultado não previsto não calculado então eu volto para casa sem a resposta da equação sem um resultado previsto porque eu resolvi alterar os fatores e criei um imprevisto agora eu volto para casa com algo aberto volto para casa com um fluxo interrompido eu volto para casa antes volto para o ponto de origem sem o resultado previsto sem seguir o plano original transgredindo minhas próprias regras volto antes porque houve um imprevisto ou um imprevisível – você paralisou algo que não podia ser calculado algo que não era da ordem dos números das distâncias e dos tempos cronológicos algo que não era da ordem do visível uma grandeza que não podia ser medida os cálculos não foram suficientes eu paralisei e só fui capaz de voltar passando pelos mesmos pontos previstos só que antes do tempo – qual tempo? antes do tempo cronológico planejado antecipei a passagem pelos aeroportos e rodoviárias me adiantei estou chegando em casa estou chegando ao fim da viagem estou chegando ao fim do trajeto que permaneceu o mesmo previsto e planejado mesmo que eu tenha me antecipado e que eu vá chegar em casa antes do cartão postal que eu te enviei o cartão postal que dentro da equação não poderia jamais ser uma variável ---------------------------------------------------------- Sobre a artista: https://linktr.ee/yasminbidim Contato: yasminbidim@gmail.com

Lygia disse que Clarice tinha a língua presa. A língua de Clarice estava presa – O adulto é triste e solitário a tela mostra a palavra a palavra se eleva no ar a palavra está presa na tela a tela tem a língua presa a tela se eleva na língua a língua disse Clarice a língua estava presa no ar o adulto estava preso na tela a tela mostra Clarice é presa Clarice tinha a palavra solta Clarice disse: – a palavra é triste e solitária Clarice se eleva no ar ela se eleva ela se eleva ela se eleva ___________________________________ YASMIN BIDIM vive na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. Tem formação em cinema e estuda poesia brasileira contemporânea na UFSCar. Trabalha como produtora cultural, VJ, educadora e pesquisadora de arte e cultura. Em 2018 publicou em coautoria o livro Rota das Raízes: Gastronomia e Cultura no Estado de São Paulo, projeto aprovado pelo ProAC. Escreve, além de poesia, crônicas e artigos sobre arte e cultura. Produz o canal de Poesia em Obra, no YouTube, no qual divulga seus poemas visuais. contato: yasminbidim@gmail.com

Cinza Ainda sonâmbula quando segurei a mão do gato e dormi mais um pouco pois chovia Ainda cinza quando enchi a caneca com café queimado e senti incômodo nesta manhã dormi perdi sua encenação primeira de cada dia o despertador a madeira seu deslocamento espaçoso na periferia dos meu sentidos já havia sido o dia começou sem jeito com um atraso catastrófico Perdi, nesta data, o movimento singular de seu corpo vivo num instante qualquer. ___________________________________ YASMIN BIDIM vive na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. Tem formação em cinema e estuda poesia brasileira contemporânea na UFSCar. Trabalha como produtora cultural, VJ, educadora e pesquisadora de arte e cultura. Em 2018 publicou em coautoria o livro Rota das Raízes: Gastronomia e Cultura no Estado de São Paulo, projeto aprovado pelo ProAC. Escreve, além de poesia, crônicas e artigos sobre arte e cultura. Produz o canal de Poesia em Obra, no YouTube, no qual divulga seus poemas visuais. contato: yasminbidim@gmail.com